7.12.16

OS MERCADOS DO CAMBOJA E A BOLHA TURÍSTICA

Você é o que você come. E se você quer conhecer um lugar de verdade você tem ir ao mercado da cidade. E não vale aquele mercado municipal limpinho e reformado pra vender souvenir pra inglês. Tem que ser aonde vão as pessoas de verdade.

Sair da bolha turística em por aqui não é fácil. Todos os pontos turísticos são rodeados de restaurantes e bares totalmente formatados para o gosto ocidental. Aliás, se você quiser nem precisa trocar dólares pela moeda local, pois todo mundo já passa os preços em doletas e os caixas eletrônicos te soltam dinheiro gringo. 

Em Siem Reap, um encontro fortuito nos tirou da bolha. Era o terceiro dia de visita aos templos. Saíamos da última vista ao último deles e voltávamos pra cidade pra visitar o mercado de turistas no centro. No meio do caminho o tuk tuk passou por um mercado de beira de estrada. Sujo, bagunçado, pobre, improvisado. Ele jamais pararia ali, mas Rit, o nosso motorista, repentinamente quebrou o protocolo e parou o veículo.

- Posso parar aqui um minuto? Acabei de encontrar um amigo de infância que não vejo desde os anos 80!
- Claro!

Descemos então no mercado da beira da estrada. E furamos a bolha. Mergulhamos pra dentro do mercado, em um beco escuro. Pobreza pouca era bobagem. Sem nenhum saneamento, mulheres cortavam peixes em pedras no chão e tentavam limpá-los para jogá-los em pequenas bacias. Banquinhas diversas vendiam comida feita na hora, longe de qualquer condição básica. Outras pequenas lojinhas vendiam celulares da Nokia e produtos básicos. Centenas de pessoas e nenhum turista.




Na volta soubemos que o amigo do motorista se deu bem na vida e virou empreiteiro. Rit, o motorista, pediu-lhe emprego. Viver de Tuk Tuk é difícil, pois na baixa temporada os turistas somem e o faturamento vai a zero. A vida de motorista em tarifa flutuante é ruim em qualquer lugar.

Corta para Battambang, 3 dias depois.

O tuk tukeiro daqui nos levou pra almoçar em um restaurantinho para turistas, o Nory. Ótima comida, local mas formatada pra agradar os viajantes. Mas descobrimos que o local oferece um pequeno curso de culinária khmer, onde a pessoa aprende a fazer 4 pratos. Carol se inscreveu para fazê-lo no dia seguinte.

O interessante é que o curso começava com uma visita ao mercado da cidade. E de novo, mercado de verdade. Aquela bagunça maravilhosa. Peixes sendo limpos na hora, rãs vivas sendo abatidas e jogadas moribundas em uma bacia. Neat freaks, esqueçam. Se você tem nojinho de churrasquinho grego no centrão, se você só lava a mão com Protex, carrega lencinho umedecido na bolsa pra lavar as mãos antes de comer uma coxinha ou tem alergiazinha a qualquer coisa, passe longe. A gente adorou.







O curso foi ótimo. Carol aprendeu um pouco da cozinha do Camboja e ainda levou uma apostila de receitas. 




Um dia quem sabe vamos comer no Brasil um prato khmer feito pela Carol. Mas a experiência de mergulhar nos mercados cambojanos… aí vocês tem que vir.