1.12.16

CIRURGIA NO CAMBOJA

Já no finalzinho do nosso périplo até o Camboja, Irene deita a cabeça no meu colo.

Foi muito cansativo, filha? Não.



Faço um cafuné e reparo que a tarrachinha do brinco não está lá. Quando coloco a mão em sua orelha percebo que ela está lá dentro. Vou tentar tirar, ok? Gritos...

Menos de 15 minutos depois já estamos em nosso quarto de hotel, agora com mais luz tento repetir o procedimento. Gritos...

Vamos para a recepção. Uma hóspede inglesa recomenda a farmácia bacana. Subimos num tuk-tuk e partimos. O motorista sugere outras mais próximas, eu digo que não, vamos naquela indicada.

Chegando lá a atendente diz que não tem nada que possa fazer. Nos manda para o hospital público. Chegando lá o atendente diz que não tem nada que possa fazer. Nos manda para uma clínica particular.

Outro tuk-tuk e chegamos. Da rua, pela sequência de portas envidraçadas, já vemos todo o primeiro ambiente que é uma espécie de recepção, sala de espera, quarto coletivo, tudo junto. Tudo limpo e branco. Ali eu preencho uma ficha com o nome e a idade, seu peso é anotado, bem como o que eu imagino seja um resumo da queixa.

Passamos para outro edifício, separado uns 3 metros do primeiro e entramos na sala de cirurgia (talvez eu esteja meio hiperbólica nessa parte da descrição, era uma sala com aquela luz forte, uma maca, apetrechos médicos, etc).

A médica-recepcionista cuidadosamente mexe na orelha da Irene e tenta encontrar a tarrachinha perdida lá dentro. Irene urra de dor. Continua tentando tirar, tudo com muita delicadeza. Irene aos berros. Traz a anestesia. A Irene grita com a injeção e dois segundos depois já está dando risada que não sente dor, mas sente que estão mexendo na orelha dela. Damos risada junto com ela.

Entendeu como foi quando me cortaram para tirar você? Eu sentia eles mexendo na minha barriga, mas não sentia dor.

Ela continua a puxar o brinco com delicadeza e tranquilidade, quando conseguiu deixar uma distância grande (a tarrachinha devia estar bem na pontinha do brinco nessa altura), empurra o brinco para tentar empurrar também a tarrachinha que começa a finalmente dar o ar da graça!

Mais um pouco de puxa e empurra, com uma daquelas tesouras de ponta torta, consegue tirar a tarrachinha do brinco e da orelha!

A Irene já pula da maca e vai indo embora.

Calma, filha!

Recebemos um antibiótico, um paracetamol, um frasquinho de iodo e gazes, pagamos 50 dólares e entramos no nosso tuk-tuk de volta ao hotel.